Fugitivos: 1×01-03 – Superando todas as expectativas (que já estavam bem altas)!

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Fugitivos: 1×01-03 – Superando todas as expectativas (que já estavam bem altas)!

Por Gus Fiaux

Dentre as equipes de super-heróis, sempre tive um apreço especial por grupos mais jovens e adolescentes. Não que equipes como os X-Men, Vingadores ou a Liga da Justiça não tenham ótimas histórias e sejam os carros-chefes de suas respectivas editoras. Mas há algo de especial na forma como a Legião dos Super-Heróis, os Novos Mutantes, Jovens Titãs, Jovens Vingadores e, óbvio, os Fugitivos operam. Suas aventuras são muito mais identificáveis, e o drama – quase – sempre é bem equilibrado, trazendo um contraponto muito agradável para os momentos de ação irrefreáveis.

Por conta disso, não é nem preciso ressaltar o quanto eu esperava pela estreia dessa série.

A cada nova imagem, trailer e entrevista dos criadores, dava para perceber que Fugitivos se manteria o mais fiel possível à obra original de Brian K. Vaughan e Adrian Alphona – que, pessoalmente, considero uma das melhores HQs já escritas. E mesmo as mudanças que vinham sendo anunciadas não me incomodavam, pois sempre fui a favor de incluir coisas novas para que as adaptações não sejam apenas cópias literais das HQs.

O tempo foi passando e na última terça-feira, dia 21 de novembro, a Hulu e a Marvel liberaram os três primeiros episódios da série. E aí que eu percebo o quanto estava enganado. Todas as expectativas para a série e os personagens estavam erradas. Porque a série conseguiu – e muito – superar o que eu havia concebido em meus pensamentos.

Em três episódios, conhecemos Alex Wilder, um jovem tímido e anti-social, que assim como nas HQs, deve funcionar como uma espécie de “protagonista”, ao menos na primeira temporada. Ele busca, a todo custo, resgatar a amizade de Nico Minoru, uma jovem criada por uma família bem rígida, que é seguidora de wicca e bruxaria clássica.

Nico perdeu sua irmã mais velha, em um acidente que ainda não foi explorado, assim como Molly Hernandez, cujos pais foram vítimas de um grande incêndio. Felizmente, a mais jovem do grupo, com poderes especiais inexplicáveis, foi adotada pelos pais de Gert Yorkes, a heroína mais “comum” do grupo. Ela pode não ser popular, mas está lá dando a cara a tapa para lutar por seus direitos e para se mostrar como a “cabeça da equipe”.

E ainda assim, como o coração não escolhe quem quer, Gert é apaixonada por Chase Stein, o típico “atleta do colegial”, que consegue ser bem babaca, principalmente quando espelha nos outros a relação abusiva que tem com seu pai. Ainda assim, ele se prova um cara leal e honesto, especialmente nos momentos onde demonstra sua afeição por Karolina Dean, a filha de uma pregadora para uma seita conhecida como Os Filhos do Gibborim.

E é nesse básico que a série já conquista à primeira vista: os personagens.

Não há um único personagem nessa série que seja chato ou irritante, ou que não provoque um mínimo de empatia – e simpatia – no público. Mesmo com as diversas mudanças em relação ao material fonte, a essência de todos os personagens é respeitada, e eu já me vejo querendo conhecer ainda mais da Gert, Molly e Nico, meu trio favorito até o momento.

E isso só é um mérito graças aos atores. A Hulu e a Marvel conseguiram fazer uma seleção fantástica, juntando seis adolescentes (e jovens adultos) extremamente talentosos, que conseguem trazer um toque de humanidade aos seus personagens muito profundo e sincero. Ariela Barer, Allegra Acosta e Rhezny Feliz são os maiores destaques, trazendo uma personalidade própria que se mescla perfeitamente à essência dos heróis nas HQs.

Aliás, assim como Homem-Aranha: De Volta ao Lar fez nesse ano, as cenas de interação juvenil entre esses personagens – principalmente na escola – são as mais realísticas possíveis.

Mas é óbvio que, para quem leu as HQs, sabe que toda a trama dos Fugitivos gira em torno de um fato brutal: Todos os seus pais são super-vilões, membros do Orgulho, uma rede criminosa instalada em Los Angeles, que servem às entidades interdimensionais e demoníacas conhecidas como Gibborim.

Sim, estamos falando das mesmas criaturas que aparentemente são adoradas pela igreja da mãe de Karolina.

Diferente das HQs, no entanto, aqui passamos a conhecer mais ainda dos pais, de modo que eles deixam de ser figuras puramente malignas e unidimensionais. Todos possuem um próprio arco e dramas pessoais, de forma que é muito mais compreensível entender a relação entre os criadores e suas criaturas.

Victor Stein surge como o maior destaque da trama. Assim como nas HQs, ele é um homem arrogante e abusivo, mas a série eleva isso à enésima potência, de forma que ele pode vir a ser o “principal vilão” da temporada. Janet Stein é uma mulher que sofre nas mãos do marido, mas que ama seu filho com todo amor possível, enquanto precisa esconder um segredo de sua família. Ao mesmo tempo, Catherine e Geoffrey Wilder ganham uma humanização maior, de forma que são pais carinhosos e amigáveis, enquanto precisam lidar com seus próprios problemas.

Tina e Robert Minoru vivem um relacionamento desestruturado e aos pedaços após a morte de sua primogênita. Eles representam um dos maiores conflitos da série, no núcleo, e aqui só tenho a reclamar da falta de referências a Doutor Estranho, uma vez que Tina está no filme, ainda que indiretamente. Dale e Stacey Yorkes, por outro lado, parecem ser os melhores pais do grupo. Ainda que façam parte da equipe de vilões, eles demonstram verdadeiro remorso pelo que fazem, e são pessoas formidáveis.

O que nos leva a Leslie Dean. Na série, ela é a personagem mais modificada em relação ao material-fonte, e isso deverá ter consequências grandes já na primeira temporada. Em vez de atriz, ela é uma pregadora, em um culto que poderia facilmente se passar por uma crítica à cientologia. Ainda assim, há um certo background das HQs, principalmente na relação com seu marido, Frank Dean, que é um ator famoso, ainda que esteja lutando para conseguir relevância depois de adulto.

Dos três primeiros episódios, podemos ver claramente que os Filhos do Gibborim é uma fachada para o Orgulho. Ainda assim, há uma trama misteriosa envolvendo o que parece ser um parente dos Dean, que provavelmente será resgatada mais à frente.

Um ponto muito positivo da série foi ter feito com que o segundo episódio fosse uma réplica dos eventos do primeiro, contados pela perspectiva dos pais. Isso adiciona não apenas mais dimensões à trama, como também ajuda a fechar algumas pontas soltas e definir, de forma homogênea, a motivação de cada um dos personagens.

Em termos emocionais, a série consegue replicar de forma gloriosa a mesma sensação que se tem ao ler as HQs da equipe. É uma série adolescente, e isso não há dúvidas, mas os produtores não têm medo de arriscar em algo mais maduro, abordando temas atuais e revelantes como feminismo, ecologia e a questão do estupro em festas universitárias, ao mesmo tempo que toca em temas tabu como adultério, gravidez na adolescência e consumo de drogas.

Não é uma série para crianças, mas também não é algo adulto como o bloco da Marvel/Netflix.

Aliás, é válido dizer que, apesar de inserida no Universo Cinematográfico da Marvel, temos uma trama muito mais auto-contida e hermética. Não há sequer menção aos Vingadores, e a única ligação óbvia entre os filmes e a série é a presença do WHIH, um canal de notícias fictício próprio do MCU.

Mas isso não quer dizer que faltam easter-eggs, apenas que eles estão destinados a traçar ligações com as HQs da equipe. Seja no visual – as roupas utilizadas no piloto são basicamente idênticas às roupas utilizadas pelos personagens em sua primeira aparição nas HQs -, ou até mesmo em detalhes da trama que podem vir a ser resgatados no futuro, como o livro ritualístico dos Gibborim, as manoplas super-poderosas de Chase Stein ou até mesmo o gorro usado por Molly no piloto – um elemento visual icônico da heroína nas HQs.

Em termos técnicos, a série está fazendo um trabalho impressionante. Por mais que os personagens não usem tanto seus poderes – com exceção de Molly, que usa em todos os episódios, e de forma bem interessante –, há  uma preocupação clara em fazer tudo da forma mais realista possível. Por exemplo, podemos citar a pequena cena onde vemos Karolina em sua forma original, ou o trecho de cair o queixo onde Alfazema, a “dinossaura” de Gert, dá as caras. Em termos de efeitos visuais, por mais que o orçamento seja reduzido, a qualidade se mantém altíssima. Você quer, Inumanos?.

A fotografia da série é muito bonita, com cores vivas e vibrantes para todos os lados, seja na roupa de Karolina, no cabelo de Gert ou até mesmo nas ruas de Los Angeles. O trabalho sonoro não fica atrás. A mixagem é bem competente e imersiva, mas o verdadeiro destaque vai para a escolha das trilhas sonoras, sejam incidentais ou produzidas por artistas famosos. Nesse caso, a trama opta por se focar em músicas mais indie e alternativas, até mesmo dentro do rap, o que gera em si uma sensação de foco na ambiência de Los Angeles.

Em três episódios, Fugitivos me conquistou de uma forma que apenas Jessica Jones havia feito, dentro das séries do Universo Cinematográfico da Marvel. É o tipo de série que eu não veria problema em maratonar – e por isso, inclusive, agradeço à Hulu por lançar os episódios semanalmente, senão a essa altura já teria terminado e estaria sofrendo sem anúncios para uma segunda temporada.

É uma série divertida, que não se arrasta em sua trama – ao menos nos primeiros episódios. Você pode acabar reclamando que eles ainda não fugiram de casa, mas há algo de muito importante nesse primeiro momento, onde eles descobrem que seus pais são vilões mas não tomam a coragem necessária para irem embora.

Se você estava sentindo decepção em meio a tantas séries regulares ou ruins da Marvel nesse ano, pode acalmar seu coração. Fugitivos veio para ficar, e a julgar apenas pelos seus três primeiros episódios, é uma das séries com maior potencial do Universo Cinematográfico da Marvel.

Abaixo, confira imagens do quarto episódio, que vai ao ar na próxima terça-feira:

Fugitivos é lançado às terças-feiras, na Hulu. Não perca nossa review semanal da série!