10 motivos pelos quais Thor: Ragnarök dos quadrinhos é inadaptável!

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10 motivos pelos quais Thor: Ragnarök dos quadrinhos é inadaptável!

Por Gus Fiaux
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Apego mitológico

A Marvel ficou conhecida ao adaptar os contos e mitos nórdicos de uma forma moderna e bem diferente da mitologia viking, de forma que os deuses de Asgard e dos nove reinos acabassem se tornando ainda mais próximos aos super-heróis, e mais distanciados das lendas clássicas. Contudo, as sagas do Ragnarök sempre buscam, de alguma forma, retornar ao material bruto dessa mitologia.

Os cinemas, ao adaptarem o material dos quadrinhos, se afastaram ainda mais da mitologia nórdica, tornando seus personagens praticamente irreconhecíveis. Então, buscar adaptar qualquer Ragnarök seria um desastre, pela forma como não há uma ligação tênue que seja entre a mitologia nórdica e os filmes do Thor.

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Ausências sentidas

Para o Ragnarök dos quadrinhos acontecer, uma quantidade infindável de personagens precisou estar em jogo, de modo que certos heróis e vilões se tornaram indispensáveis para a trama. A exemplo, podemos citar Balder, que é o Asgardiano cujo sacrifício serve como estopim para o evento. Além dele, temos os vilões Surtur e Hela, que comandam hordas contra o Reino Dourado. Além disso, temos a Serpente do Mundo e o Lobo Fenris, que são importantes para definirem o destino de Thor e Odin.

Nos cinemas, nenhum dos personagens citados foi introduzido, e jogá-los unicamente em um filme tiraria todo o peso de suas ações durante o Ragnarök.

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Fantasia futurista

Enquanto os quadrinhos buscaram trazer o universo do Thor para mais próximo possível da fantasia mitológica, sua adaptação cinematográfico buscou interpretar de uma forma diferenciada as nuances dos universos que compõem esses reinos místicos, de forma a envolver a série em um invólucro de ficção científica futurista. Para alguns, isso funciona, enquanto para outros, é mais um defeito na série de filmes do Filho de Odin.

Quando se fala de uma adaptação do Ragnarök, essa migração para um cenário futurista prejudica ainda mais o evento apocalíptico nórdico, uma vez que retira toda a aura da mitologia por trás do acontecimento. Certas criaturas, como Fenris e Jormungand se tornam figuras inimagináveis, e o aspecto épico é substituído por uma trama em que os exércitos estão equipados com tecnologia avançada. Isso pode até funcionar visualmente, dependendo da execução, mas falha ao invocar o aspecto mais básico da história enquanto mito.

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Vilania excessiva

Se os filmes de super-heróis já provaram algo é a falta de capacidade de criar-se uma história coesa e bem contada em que um herói protagonista acabe tendo de enfrentar mais de um antagonista, de forma que esses vilões continuem ameaçadores e perigosos sem comprometer a ilusão de verossimilhança ao ver o herói sendo subjugado numericamente.

No Ragnarök, veríamos Thor e Asgard serem subjugados completamente por vilões poderosíssimos como Surtur e Hela. Como fazer isso de forma que o herói pudesse ter alguma chance contra esses antagonistas? E ainda pior, mesmo que isolado no núcleo Asgardiano, como uma luta de tamanha magnitude não iria refletir nos outros heróis da Terra? Nenhum Vingador iria atrás de Thor? As consequências do conflito não poderiam chegar à Terra? Se os vilões forem vitoriosos, eles vão querer parar apenas em Asgard?

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Humor irreverente

Sabemos desde já que, a Marvel, ao contratar o diretor Taika Waititi (What We Do in The Shadows), buscou de alguma forma trazer um tom cômico ao terceiro filme do Thor. Isso se torna claro pela filmografia do cineasta, predominada por comédias, e por declarações do próprio e da equipe criativa do filme, que já diz que o tom de humor será muito elevado no filme.

Não faz o menor sentido, em termos realistas, criar um filme denso de guerra envolvendo mortes e destruições, que acabe se tornando uma comédia. A única escapatória é um filme que busca refúgio no humor negro, o que ainda assim acaba pegando pela tangente e descaracterizando o personagem e o universo de Asgard.

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Violência ilimitada

Além disso, há a ideia do contexto. Todos os filmes da Marvel Studios são feitos para um público geral, de modo que crianças possam ir com seus pais aos cinemas. Adaptar uma guerra de proporções catastróficas e trazer consigo seus piores elementos, envolvendo incontáveis perdas de vida, sacrifícios, mortes, e todos os elementos que tornam essa guerra palpável e plausível é algo que simplesmente não casa com a proposta do Universo Cinematográfico da Marvel.

Qualquer adaptação que viesse da saga para esse universo seria consequentemente amenizada e teria seus principais ideais modificados, de forma que o filme pudesse ser exibido - e vendido - para um público que vai do fã mais jovem ao mais idoso.

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Franquia inconstante

A simples ideia de fazer um filme inspirado no Ragnarök como conclusão da trilogia do Thor nos cinemas é algo completamente insano. Até mesmo os maiores defensores dos filmes do personagem hão de concordar que a série é inconstante e apresenta uma grande problemática na hora de definir seus gêneros, subgêneros e tons.

Se pararmos para analisar a fundo, o primeiro filme é uma apresentação básica do personagem. O típico "filme de origem", envolto numa roupagem de aventura e com esse viés de super-heróis. Já a continuação altera esse status e vai em busca de algo bastante diferente. Trata-se de uma ficção científica com elementos de humor muito saltados. Agora imagine terminar essa franquia com um épico de guerra que necessita de um apelo dramático forte. Qual seria a unidade e o tom dessa trilogia? Ela funcionaria por si só, descolada do MCU? Se analisarmos outras, como a do Homem de Ferro ou do Capitão América, podemos ver uma clara evolução de temas, mantendo uma linha em comum em todos os filmes, algo que simplesmente não existiria aqui.

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Caindo de paraquedas

Como se não bastasse tudo citado até agora, ainda temos a inclusão do Hulk na história. Algo que não faz o menor sentido dentro de nenhum dos Ragnarök dos quadrinhos. O personagem teve grandes arcos com o Deus do Trovão, de fato, mas isso não justifica sua entrada na franquia dessa forma.

Além disso, rumores revelam que o personagem terá uma participação que lembra o arco Planeta Hulk. Isso tira o peso dos ombros do Thor - que deveria ser a figura central do filme -, deslocando para outro personagem, de modo que o filme acabe tendo uma ideia mais compartilhada do que uma adaptação literal da saga.

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Muita coisa para pouco filme

Um filme que consiga abarcar completamente a mitologia do Ragnarök, passando o peso dos quadrinhos, e inserindo todos os personagens necessários para que a trama tenha sua continuidade mantida deveria ter, no mínimo, três horas e meia de duração, o que é inviável dada a lógica de produção dos blockbusters de Hollywood.

Caso o filme se propusesse a adaptar literalmente o arco em apenas duas horas, seria uma história corrida, sem peso narrativo e sem importância alguma para o MCU - ou ao menos, uma importância que pudesse ser sentida. Além disso, teríamos as consequências do evento que precisariam ser abordadas para que o filme não acabasse como uma grande linha em aberto.

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Complicações Infinitas

Vale lembrar que o filme pertence à Fase 3 do Universo Cinematográfico da Marvel, culminando na Guerra Infinita. Para isso, é esperado que todos os filmes antes da próxima aventura dos Vingadores resolvam seus problemas e deixem seus heróis prontos para o próximo evento, até porque o filme que irá trazer Thanos como principal ameaça não pode perder tempo tendo que resolver pontas deixadas pelos filmes dos personagens que se envolverão no conflito.

O Ragnarök dos quadrinhos comumente acaba com a morte dos deuses de Asgard e do próprio Thor, em busca de um renascimento. Isso é muito difícil de ser adaptado sem interferir negativamente na trama de Guerra Infinita. Ao mesmo tempo, se o personagem morresse e ressuscitasse no mesmo filme, seria uma decisão que tiraria completamente o peso da morte.

Em suma, por mais que preocupe a falta de fidelidade da saga, seria ainda mais preocupante se ela fosse mantida nesse momento. Vale lembrar que os estúdios de cinema possuem um próprio universo e suas próprias histórias, que, por vezes, levam nomes de arcos dos quadrinhos sem necessariamente ter grande relação com eles. Trata-se do Ragnarök do MCU, e não do Ragnarök nórdico ou dos quadrinhos. E para criticá-lo ou reprová-lo, será necessário ver como ele será elaborado primeiro.