[CRÍTICA] O Justiceiro – Mais um acerto Marvel, mas não pelos motivos de sempre!

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[CRÍTICA] O Justiceiro – Mais um acerto Marvel, mas não pelos motivos de sempre!

Por Felipe de Lima

Dia 17 está chegando e com ele entram algumas novidades na Netflix. A principal delas é a série O Justiceiro, primeiro spin-off do universo que a Marvel criou na televisão. Eu assisti aos 13 episódios da primeira temporada e você pode conferir minha opinião a seguir.

Ah, pode ficar tranquilo que NÃO tem spoilers.

Imagens: Divulgação. 
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Depois de estabelecer uma parceria com a Netflix, a Marvel ampliou ainda mais seu universo cinematográfico na televisão e trouxe as excelentes séries Demolidor e Jessica Jones, entre outras produções de qualidade bem duvidosa como Luke Cage, Punho de Ferro e Os Defensores.

Acontece que, quando as séries do Homem Sem Medo e da detetive particular estrearam em 2015, elas se propuseram a debater temas e tons que seriam inviáveis aos filmes do bem-sucedido Universo Cinematográfico Marvel, abordando perspectivas e personagens com complexidades e traumas que não se adaptam à classificação indicativa e pegada mais cômica das telonas.

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Infelizmente, depois da metade da segunda temporada de Demolidor, a coisa ficou muito no preto e no branco, com as temáticas que moviam a histórias dando espaço a ninjas de uma organização milenar que tem um background e justificativa pra existir no século 21 que chega a dar sono.

Por sorte, o pessoal da Marvel parece ter se dado conta da péssima decisão que tomaram e isso fica evidente quando a nova produção “Original Netflix” decide ter uma conversa séria com o mundo real. O Justiceiro é uma série subversiva, que joga contra a expectativa e conta a história de um homem, seus traumas e até onde ele vai para superar o peso da guerra que trouxe para casa. Em seu entorno, surgem debates de extrema importância para o atual cenário geopolítico e, principalmente, a figura e os anseios do norte-americano que colocou Donald Trump na Casa Branca.

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O Justiceiro não se alinha aos clichês de super-heróis, mas também não pode ser classificado como um vilão, mesmo quando aparece em papéis antagônicos. Frank Castle praticamente trouxe a definição de anti-herói para os quadrinhos mainstream dos anos 70, aquele cara que opera dentro de sua própria visão e está alheio aos códigos morais ortodoxos com os quais o leitor da época estava acostumado. Só que tem muito mais nesse personagem e é ao explorar a mente de seu protagonista que a série da Netflix te conquista - e esse nem é o maior mérito.

Antes de mais nada, O Justiceiro destoa de tudo que a Casa das Ideias já fez em live-action e talvez seja por isso que é a série que melhor funciona. Não há super-heróis aqui, não há conexões forçadas com Universo Cinematográfico Marvel ou aquelas referências feitas de qualquer jeito que já encheram o saco e só servem pra dizer que “tudo está conectado” – tá nada.

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Depois de iniciar uma caçada aos envolvidos na morte de sua família em Demolidor, a cruzada de Frank Castle (Jon Bernthal) chega ao fim – ao menos é isso que ele pensa. O Justiceiro está morto e Frank Castle agora vive em Nova Iorque sob a identidade de Peter Castiglione. A trama de 3AM, o primeiro episódio da série serve apenas para mostrar o que aconteceu com o vigilante depois de Demolidor e introduzir alguns dos personagens que vão mover a trama, como a detetive Dinah Madani (Amber Rose Revah), que acaba se tornando uma das facetas mais importantes da série, e Curtis Hoyle (Jason R. Moore), que serve como uma espécie de bússola para Frank em sua nova vida. Mesmo sem a caveira em seu peito, a presença do Justiceiro é sentida e a cena final de 3AM mostra a que o personagem título veio.

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Durante vários momentos, Frank tem sonhos e alucinações com sua falecida esposa e filhos que sempre terminam de forma trágica – é a solução que a produção encontrou para representar o estresse pós-traumático e como o protagonista lida com o distúrbio. No segundo episódio, outra figura intrigante é introduzida. Depois de conseguir entregar um disco com seu nome para Frank, no último episódio de Demolidor, Micro (Ebon Moss-Bachrach) é quem traz o Justiceiro de volta à ativa, mostrando que a cruzada do vigilante está longe de chegar ao fim.

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Num geral, as atuações são excelentes, visto que o elenco da série está repleto que nomes conhecidos em Hollywood, como Deborah Ann Woll (Demolidor) – que aparece pouco, mas é muito bem aproveitada -, Ben Barnes (Westworld) e Paul Schulze (Suits), que faz um vilão que conversa muito facilmente com algumas famosas figuras políticas norte-americanas.

Jon Bernthal, contudo, ainda é quem mais brilha na série, sendo colocado em situações onde a versatilidade de sua atuação é explorada, com destaque para uma cena extremamente tocante que acontece no oitavo episódio.

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Mas se tem algo digno de aplausos em O Justiceiro é o roteiro conciso, escrito majoritariamente por Steven Lightfoot, que também é criador e showrunner da série. Lightfoot consegue apresentar toda inteligência de Frank e cria soluções bem elaboradas para as adversidades nas quais o anti-herói se encontra. É ao ir fundo na psique do personagem que o escritor mostra que sabe trabalhar o Justiceiro melhor do que uma porrada de roteiristas de quadrinhos. É difícil assistir à série e não criar empatia por Frank ou pelo menos desejar que ele alcance seus objetivos.

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Em seus 13 episódios, O Justiceiro se firma como a melhor das séries da parceria entre Marvel e Netflix. Há momentos maçantes devido ao excesso de episódios - algo recorrente em todas as produções do selo. Mas o que mais difere a série de tudo que a Casa das Ideias já fez em live-action é sua atualidade - como ligar a televisão no noticiário internacional.

O Justiceiro não é e nem pretende ser uma série de super-herói e essa é melhor decisão que poderia ser tomada – ainda que existam momentos tirados diretamente dos quadrinhos. A Marvel finalmente aprendeu que não há a necessidade mostrar conexões em todas suas produções. A trama, quase que independente do universo cinematográfico da Casa das Ideias, se torna um trunfo por não levantar bandeiras, mas sim trazer questionamentos extremamente pertinentes.

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O Justiceiro é, acima até mesmo de seu protagonista, uma série crítica - seja à esquerda, seja à direita, seja ao espectador - e ainda consegue mostrar os dois lados da moeda e apontar a hipocrisia nos diversos discursos lacradores que a gente tá cansado de ver nas redes sociais. É também ao abordar estresse pós-traumático, atos de terrorismo cometidos por americanos dentro de seu próprio país, porte de armas, liberdades civis, abuso de autoridade, machismo, bullying e mais uma porrada de temas que a série se destaca como uma das produções televisivas de maior relevância nos últimos tempos. O melhor é que tudo isso é feito sem forçar a barra.

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Se ainda assim o que você procura na série é violência, gore e fidelidade aos quadrinhos, essas coisas estão lá. Mas vai por mim, tem muito mais pra se absorver aqui. O Justiceiro é, sem a menor dúvida, mais um acerto Marvel, a diferença é que não é pelos motivos de sempre.

Nota: 5/5

O Justiceiro estreia no dia 17 deste mês.