[CRÍTICA] Punho de Ferro – Um golpe de muitas decepções!

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[CRÍTICA] Punho de Ferro – Um golpe de muitas decepções!

Por Gus Fiaux

A primeira temporada de Punho de Ferro finalmente foi lançada na Netflix para todos os públicos. Os seis primeiros episódios já tinham sido liberados para os críticos – nós inclusos – e a opinião geral não estava muito amigável.

Chegamos a fazer uma review sobre a primeira metade da temporada (que você confere aqui). Porém, os sete episódios restantes ensinam uma valiosa lição sobre expectativas, decepções e como a zona de conforto pode ser prejudicial para o Universo Cinematográfico da Marvel!

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Um golpe de muitas decepções

Bem, eu acredito que existem vários fatores. O que posso dizer é que essas séries não são feitas para os críticos. Elas são, primeira e principalmente, feitas para os fãs”. Essa foi a resposta dada por Finn Jones (ator que interpreta o herói homônimo da série) à revista Metro quando surgiram as primeiras críticas negativas de Punho de Ferro.

Isso fez com que críticos e fãs ficassem curiosos sobre qual “visão” a série transmitiria de forma mais adequada para o público que já está acostumado com o personagem e esse universo de super-heróis da Netflix. O que Jones não esperava é que sua declaração fosse soar tão controversa depois que a primeira temporada finalmente chegou completa à Netflix.

Mas o que aconteceu de tão errado para que a série fosse tão arduamente criticada? Onde ela errou? Como isso afeta o restante do Universo Cinematográfico da Marvel, seja na Netflix ou de modo geral? São questões que ressaltam aos olhos já nos primeiros episódios e são mantidos até o final da temporada, ainda que ela receba uma leve melhora.

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O grande problema de Punho de Ferro está na base, no roteiro. A série, que se propõe a apresentar Daniel Rand, acaba focando pouco no protagonista e dando um destaque maior a outros personagens, como Joy e Ward Meachum ou Colleen Wing. Isso rende gigantescas cenas dentro da Rand Enterprises, sem ao menos que isso soe interessante o suficiente para o público.

Além disso, a trama não consegue fluir de uma forma suave. São várias as vezes em que os personagens navegam por situações absurdas sem dar fechamento às ações anteriores, criando uma narrativa truncada cheia de altos e baixos ao longo de uma única temporada.

Um grande aditivo quanto a isso é o ritmo, que acaba sendo o mais problemático entre as séries da Marvel/Netflix. Desde o início, têm-se a impressão de que a série está apenas enchendo linguiça para preencher os seus necessários treze episódios.

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Os personagens são, em maior parte, mal desenvolvidos. Daniel Rand é um personagem complexo entregue a um ator medíocre e, dessa forma, não há apego emocional ao herói. Na maior parte das vezes, ele transita entre um estado zen e uma fúria descontrolada sem nenhum tom de cinza no meio.

Por outro lado, Collen Wing é a que mais chega a ter uma trama interessante. Jessica Henwick se esforça, embora decisões posteriores acabem gerando uma reviravolta que soará controversa entre os fãs e que acaba não fazendo tanto sentido ao analisar todo o universo da Marvel/Netflix.

Outros personagens acabam indo e vindo na trama, às vezes sumindo durante episódios sem um indicativo do porquê. Ainda assim, vale o destaque para Claire Temple, que apesar do texto, brilha graças à atuação pontual de Rosario Dawson.

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Os vilões são uma questão à parte, principalmente depois que consideramos que a série não consegue decidir quem é o antagonista da temporada. O foco começa nos irmãos Meachum, passa para Harold Meachum (com uma atuação afetada e que não casa bem com o personagem), torna-se a Madame Gao e continua rotacionando, sem saber onde parar.

Por um lado, isso acaba tornando a trama confusa e sem um rumo fixo. O peso do antagonismo recai sobre os ombros de várias pessoas, mas nenhuma delas consegue manter seu arco - com exceção, talvez, de Gao - e tornarem-se inimigos memoráveis - algo que as séries da Netflix estavam fazendo com primor, vide Rei do Crime e Kilgrave.

Entretanto, por outro lado, a série consegue criar arcos interessantes para alguns personagens. Destaque aqui para Joy e Ward, que apesar de começarem insuportáveis, passam por toda uma modificação até o final da temporada, transformando-se nos personagens com mais camadas da série.

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Voltando ao roteiro, a série potencializa seus erros na escrita, principalmente quanto aos personagens. Todos são concebidos de forma incoerente, sempre contradizendo ações anteriores através de reações absurdas. A maior parte dos coadjuvantes - além do próprio protagonista - são rasos e suas atitudes não condizem com pessoas adultas (basta lembrar o sofrível diálogo sobre sorvetes).

E o pior em si não são os personagens, mas o contexto onde são apresentados. Punho de Ferro é um personagem que tem ampla ênfase no misticismo e na ideia de um "local sagrado" no Oriente. Aqui, vemos apenas menções a isso, sem que a série realmente aborde K'un-Lun e o seu significado na vida do herói.

Isso se torna um grande furo de escrita, já que o tempo que Danny passou fora deveria ter contribuído para ensiná-lo valores sobre a vida e a morte, tornando-o mais sábio, ainda que em busca de vingança. O resultado final acaba sendo um personagem infantil, movido por motivos infantis. Tivesse K'un-Lun sido mais desenvolvida, esse erro poderia ter sido contornado.

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A produção e a direção nem sempre se encontram na mesma página quanto à forma de realização da série. Scott Buck se prova um showrunner (quem comanda todo o desenvolvimento de uma temporada) bem evasivo, já que não consegue traçar uma unidade de desenvolvimento para a série.

Os episódios acabam sofrendo com isso. Os cinco primeiros possuem uma direção bem irregular, com falhas de continuidade, direção de arte pobre e a fotografia e a montagem causando grande estranhamento ao público. Aos poucos isso vai melhorando.

A partir do oitavo episódio (dirigido por Kevin Tanchareon, de Agents of S.H.I.E.L.D.), a série passa por uma melhora significativa na direção, recebendo planos mais bem elaborados e corrigindo alguns erros dos episódios anteriores.

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Contudo, nem toda direção do mundo consegue salvar as lutas mal coreografadas. Isso conta como um ponto extremamente negativo para a série, já que o principal atrativo dela se encontra no fato de seus personagens serem lutadores intensos de Wushu.

Com exceção do oitavo episódio, todas as lutas parecem superficiais demais, com pouco aproveitamento de dinâmica. É muito evidente o uso de cabos e de outros artifícios para criar movimentos irreais, o que contribui para lutas paradas, que não são corrigidas na edição.

Em termos de efeitos, a série é ainda mais fraca que Jessica Jones ou Luke Cage, principalmente por precisar tanto deles. O visual do próprio punho de ferro é interessante, mas todos os usos dele - que são poucos - acabam resultando em cenas visivelmente fabricadas.

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Como pode-se ver, Punho de Ferro não está agradando muito. E a grande causa disso são as expectativas. Por ser a última de um ciclo elogiado de séries da Marvel/Netflix, toda a responsabilidade recaiu sobre ela e isso não foi bem executado aqui.

O X da questão é a forma como a série acaba tentando ser realista e séria demais para se manter "no nível" de suas irmãs, como Demolidor e Jessica Jones. A sugestão do misticismo substitui a realização dele e isso acaba sendo feito de uma maneira tímida, sem dar aos fãs do personagem o que eles realmente queriam.

Talvez, se a primeira temporada fosse mais sobre Danny em K'un-Lun e apenas depois buscando vingança na Terra, tudo teria se resolvido com mais facilidade. E apesar de destoar do tom das outras séries, conseguiria cravar seu próprio espaço. Porém, do jeito que é, Punho de Ferro soa como um compilado das piores ideias rejeitadas de Demolidor, Arrow e o primeiro Homem de Ferro.

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Ainda assim, nem tudo é perdido. A série consegue estabelecer ligações interessantes entre as outras franquias da Marvel/Netflix. Aqui, não há medo de chamar Demolidor ou Luke Cage por seus nomes e há uma referência muito afiada em relação à Jessica Jones.

Os easter-eggs acabam se tornando ainda melhores devido à participação de Claire Temple e Jeryn Hogarth, ainda que as duas sejam escritas de forma contraditória às participações anteriores das personagens.

Os únicos desapontamentos nesse caso ficam por conta das referências aos filmes - já estamos cansados de só ouvir sobre "o cara verde" ou "o cara do martelo" - e dos quadrinhos do personagem, principalmente porque essas ligações servem para substituir algo que poderia ser mostrado. Danny continua falando como se fosse um biscoito da sorte, apenas para criar conexões com personagens que a série não teve a coragem de criar e mostrar (como disse anteriormente em minha review).

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Os desfecho da série acaba se tornando promissor, mas por todos os motivos errados. Punho de Ferro acaba sofrendo não apenas por não conseguir se manter à altura do que veio antes, mas também por criar mais expectativa pro que vem depois do que oferecer algo realmente bom.

A ideia principal de unir Os Defensores parte daqui, mas não é bem trabalhada. Os elos que ligam a série de Danny às outras acabam sofrendo na mão do roteiro, gerando saídas controversas para criações clássicas - como o Tentáculo, por exemplo.

Ainda assim, os últimos momentos da primeira temporada dão a entender que a série do grupo será quase que uma continuação direta da série. Dessa forma, podemos esperar que Os Defensores seja a série do herói que Punho de Ferro não foi, especialmente na retratação de elementos mágicos como K'un-Lun. Uma pena que a atuação de Finn Jones não deva melhorar tão cedo.

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De forma geral, Punho de Ferro é a pior das séries da Marvel/Netflix apresentadas até aqui. O roteiro é ineficaz, os personagens não são coerentes e nem bem escritos, e a produção de Scott Buck deixa a desejar a níveis cavalares - o que nos faz temer bastante por Inumanos, já que ele também a produzirá.

E respondendo a declaração de Finn Jones. Não, Punho de Ferro definitivamente não é uma série para os críticos. Mas ela também não é uma série para os fãs, pois falha em recriar minimamente o herói que todos queriam ver, segurando-se demais em um realismo e uma sobriedade que, de Punho de Ferro, não tem nada.

NOTA: 2/5