[CRÍTICA] Star Trek: Discovery – O retorno à Fronteira Final!

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[CRÍTICA] Star Trek: Discovery – O retorno à Fronteira Final!

Por Gus Fiaux

Após três filmes bem-sucedidos no cinema, mas que pendiam mais para a ação do que para sua vertente humanitária, Jornada nas Estrelas está retornando para onde surgiu: a televisão. Dessa vez, Star Trek: Discovery se propõe a contar uma história situada dez anos antes dos eventos da série original.

Os dois primeiros episódios já foram liberados – e estão sendo exibidos no Brasil pela Netflix, que liberará os novos capítulos semanalmente. Aqui, antes de começar nossa costumeira review semanal, decidimos abordar os primeiros episódios como um filme – até mesmo por sua história fechada – e eis nossa crítica sobre o retorno da franquia.

Créditos: CBS
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Dizer que Star Trek é uma franquia popular é, no mínimo, um eufemismo. O impacto cultural causado pela franquia criada por Gene Roddenberry atravessou décadas desde a série original de 1966, trazendo (quase sempre) importantes mensagens em tempos sombrios, seja em prol de causas sociais ou políticas diplomáticas.

E agora, cerca de cinquenta anos depois, em um momento fragilizado para o mundo todo, Star Trek: Discovery vem para carregar a chama da franquia e trazer de volta o sentimento de esperança, otimismo e igualdade que todos precisávamos, mesclando isso a uma aventura de escala cinematográfica para a televisão.

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Em um nível bem óbvio, a série trata da tripulação da U.S.S. Shenzhou - que curiosamente significa "nave divina" em dialetos chineses -, realizando missões de exploração pelo universo. A nave é liderada pela Capitã Philippa Georgiou, que conta com fiéis subordinados, como a Tenente Michael Burnham e o Tenente Saru.

Tudo muda na vida da tripulação quando eles descobrem um misterioso objeto espacial que pode ter sido responsável pela destruição de um satélite. Quando Michael parte para investigar o mistério, a tenente acaba caindo em uma armadilha Klingon e logo começa um conflito que pode por em risco o tratado de paz da Federação.

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Em termos de trama e narrativa, os dois episódios não trazem muitas novidades em relação ao que já foi visto diversas vezes na TV e no cinema. Mas isso não deve ser visto como uma crítica ou afronta. Pelo contrário, por apostar em um caminho "seguro", Discovery já começa apresentando personagens arquetípicos e facilmente reconhecíveis.

Michelle Yeoh, como Georgiou, já começa em um papel interessante, que apesar de pequeno, terá grandes consequências no desenrolar da série, sobretudo no desenvolvimento da verdadeira protagonista. Sonequa Martin-Green é uma personagem interessantíssima, desde suas origens até suas decisões, e a atriz eleva seu trabalho ao máximo, o que gera um sorriso no rosto do público.

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Os outros personagens, por menores que sejam, também possuem um desenvolvimento interessante. Saru, interpretado por Doug Jones funciona bem como um alívio cômico, mas possui um diálogo em especial com Michael que é de partir o coração e mostra bem como ele é um personagem sábio.

Os Klingons também não devem em nada. Tanto Chris Obi quanto Javid Uqbal fazem ótimos trabalhos nos papeis de T'Kuvma e Voq, dois personagens distintos que mostram o preconceito interno dentro da própria raça e podem servir muito bem como metáforas afiadas para o fanatismo e os ideais de superioridade racial.

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E embora o desenvolvimento narrativo do episódio seja seu foco principal, com uma trama otimista e esperançosa, os valores de produção acompanham essa jornada estelar de uma forma muito preciosa. Parece que estamos vendo algo com qualidade cinematográfica - e olha que nem foi gravado com câmeras IMAX e lançado mundialmente nos cinemas por aí...

As sequências espaciais são um delírio para os olhos, com uma ambientação incrível. Destaque também para o uso de efeitos visuais para a concepção das naves, que funciona muito bem. A U.S.S. Shenzhou é um ambiente simples e minimalista, mas perfeitamente crível. O mesmo vale para os ambientes Klingons.

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E se a produção digital é impecável, não sabemos nem o que falar dos efeitos práticos e do design de produção. Todos os figurinos e trajes são excelentes, com destaque principal para os Klingons. Tanto a maquiagem quanto o figurino da raça é de tirar o fôlego e, mais de uma vez, me distraí do roteiro notando os detalhes da armadura de T'Kuvma.

Além disso, há pequenas mudanças e detalhes que são bem interessantes para os fãs mais atentos. A troca nos sinais da Frota Estelar são bem interessantes, representando a diferença de cargos da mesma forma que as cores da camisa representavam na série original e nos filmes. Há também um bom visual para os cenários - tudo complementado por uma fotografia impecável.

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Há alguns deslizes aqui e acolá, que não chegam a atrapalhar tanto a apreciação da série, mas acabam saltando aos olhos indiscretamente. Seja um ou outro diálogo expositivo demais, algumas falhas técnicas na iluminação e algumas tomadas onde o CGI não parece estar finalizado. Mais uma vez, nada disso atrapalha o desenvolvimento.

Contudo, devo admitir que fiquei um pouco incomodado com o som da série. Mesmo para TV, a potência sonora está bem abafada e chega a ser difícil ouvir alguns diálogos mais baixos. Além disso, há uma discrepância imensa entre os sons naturais - como diálogos e foleys - para os sons digitais, usados sobretudo nas sequências de batalha.

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Ainda assim, o saldo é imensamente positivo. Star Trek: Discovery veio da forma que todos nós esperávamos de uma boa série de Star Trek. E embora seus dois episódios tenham uma trama muito bem concisa e fechada, eles deixam grandes brechas para o futuro e amarram o público, que sem dúvida ficará curioso para saber mais sobre o futuro de Michael.

Como um "piloto" mais encorpado, os dois primeiros episódios cumprem bem o seu papel, despertando o interesse pelo restante da temporada, que terá quinze episódios. Além disso, vale lembrar que novos personagens surgirão e a trama central da série há de se desenrolar ainda mais, talvez até mesmo fazendo conexões importantes com a série original e outras franquias derivadas da saga.

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E por falar em conexões, os fãs mais atentos já podem ficar de olho para alguns elementos importantes. O mais óbvio deles é a inclusão de Sarek - o pai de Spock -, que possui uma relação importante com Michael e está sendo bem representado por James Frain.

E como se não bastasse isso, ainda há vários easter-eggs e referências a detalhes clássicos da franquia. Seja um objeto de cena ou outro ou até mesmo a relação entre alguns personagens. O futuro certamente é uma criança nas mãos de Discovery e, sem dúvidas, a série fará de tudo para homenagear o legado de Roddenberry.

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Por fim, basta dizer: se você é fã de Star Trek ou de qualquer outra saga espacial, ou apenas gosta de uma história escapista que traga uma iluminação interessante para a realidade, não perca tempo e vá assistir Star Trek: Discovery.

Em apenas dois episódios, a nova série criada por Bryan Fuller e Alex Kurtzman já se provou um excelente ponto de partida para quem quer conhecer a Fronteira Final. E em tempos tão cataclísmicos, é importante ver uma série que lide com diversos temas e tramas, explorando um futuro utópico e otimista, com uma boa mensagem política e um elenco mais que diversificado.

Nota: 4/5