[CRÍTICA] Vida – Existe vida em Marte, mas não é lá essas coisas!

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[CRÍTICA] Vida – Existe vida em Marte, mas não é lá essas coisas!

Por Gus Fiaux
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Ficha Técnica

Título: Vida (Life)

Ano: 2017

Lançamento: 20 de Abril de 2017 (Brasil)

Direção: Daniel Espinosa

Classificação: 12 anos

Duração: 103 minutos

Sinopse: Uma equipe de cientistas à bordo da Estação Espacial Internacional descobre uma forma de vida extraterrestre vinda de Marte. A entidade começa a evoluir rapidamente, pondo em risco a tripulação e toda a vida na Terra.

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Vida - Life on Mars?

Há algo de desesperador e claustrofóbico em histórias que envolvem isolamento, sobretudo espacial. Filmes como Gravidade fizeram isso da melhor forma possível, representando toda a solidão de se estar no espaço. Ao mesmo tempo, Alien: O Oitavo Passageiro ditou a moda do horror alienígena, criando uma série de filmes que combinam um tipo de medo do desconhecido ao slasher espacial.

De muitas formas, Vida – ou Life, no original – tenta recriar as atmosferas desses dois filmes, trazendo elementos novos para a mesa. Também abarca em si diversos questionamentos metafísicos sobre a vida fora da Terra, ainda que falte tempo e recursos para dar ao público todas as respostas.

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O grande diferencial de Vida, que o distancia de outros filmes de horror envolvendo criaturas espaciais, é a forma pela qual o filme tenta destacar isso da forma mais verossímil possível. No início, somos apresentados a uma cápsula vinda de Marte, contendo amostras do Planeta Vermelho. A equipe multi-nacional da Estação Espacial Internacional intercepta a pequena nave, e de lá, eles conseguem extrair uma célula alienígena, provando a existência de vida fora da Terra.

Contudo, é aqui que os problemas começam, já que, ao experimentar diferentes atmosferas de vida para a célula, os cientistas descobrem seu potencial assassino e seu letal desejo por sobrevivência. Sendo o elemento central do filme, o alienígena – chamado de Calvin – é assustador, tendo um conceito visual único que evolui ao longo do filme, sem deixar de lado a plausibilidade científica. Ele consegue se estabelecer como uma ameaça real e temível ao longo da trama.

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Quanto aos personagens, o diretor Daniel Espinosa faz uma seleção curiosa em seu elenco. Ryan Reynolds interpreta um personagem com traços de Deadpool e é sumariamente prejudicado por uma decisão de roteiro, enquanto Jake Gyllenhaal e Rebecca Ferguson fazem os exploradores com maior potencial dramático do filme – ainda que o longa não consiga desenvolver todas as nuances de seus personagens.

Duas surpresas formidáveis foram os personagens de Hiroyuki Sanada e Ariyon Bakare. Embora sejam “coadjuvantes de luxo”, os dois conseguem imprimir uma forte carga emocional às suas respectivas tramas e, mesmo quando o roteiro falha em trazer mais profundidade para suas histórias, os atores dão tudo de si para criar pessoas humanas e palpáveis.

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Aliás, falando no roteiro, temos aqui o aspecto mais problemático do filme. Ainda que não seja ruim, o texto-base de Rhett Reese e Paul Wernick – também responsáveis por Deadpool – se propõe a responder vários questionamentos filosóficos e metafísicos – algo que pode ser visto em todas as cenas de Hugh (Bakare) e David (Gyllenhaal), por exemplo. Entretanto, a necessidade de se criar um horror espacial acaba varrendo essas perguntas para debaixo do tapete.

É a primeira vez que me pego desejando que o filme fosse mais puxado para o drama filosófico do que para o horror, ainda mais considerando que esse é um de meus gêneros favoritos. Há uma falha de comunicação entre todos os “subgêneros” abarcados pela trama, de modo que em vez de conseguirem explorar suas totalidades, os roteiristas abraçam apenas metade do horror ou do drama possível.

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A direção, por outro lado, é boa, apesar de irregular. Algo que funciona muito bem no início do filme são as várias tomadas em plano-sequência feitas com uma câmera mais “fluida”, dando a sensação de tontura provocada pela gravidade zero do espaço. Contudo, esse recurso é esquecido a partir da metade do filme, dando lugar a uma fotografia mais estática, o que acaba quebrando um pouco da atmosfera visual do longa.

Ao mesmo tempo, há problemas na montagem, que por vezes parece um pouco truncada e sem vida (perdão pelo trocadilho). Como exemplo claro disso, há uma grande reviravolta no final, que se tivesse sido construída através de um jogo de edição, causaria um choque muito maior. Porém, é feito de forma descuidada, o que acaba tornando a surpresa previsível para o público.

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Ainda assim, não estamos diante de um filme ruim – pelo contrário. A trama é empolgante e em momento algum acaba se tornando inflada. O ritmo do filme é rápido e ágil, o que é muito bom para uma história de horror, embora acabe passando a sensação da necessidade de um pouco mais de tempo para explicar conceitos e construir melhor os personagens.

Por outro lado, o visual do filme é impecável. O CGI é usado com parcimônia, criando um ambiente crível que não acusa usos desmedidos de efeitos visuais. A criatura, por exemplo, é muito realista e parte de uma exploração de conceitos visuais inovadores para o gênero.

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Ainda assim, o filme acaba se provando um tanto quanto aquém das expectativas. Citei Gravidade e Alien ao início da crítica e o fiz porque Vida constantemente bebe na fonte dessas duas referências, criando elementos realmente intrigantes e que incentivam a busca pelo mistério. Contudo, por tentar alcançar padrões tão altos, a trama não consegue se manter à altura de suas apostas.

O resultado final é um filme que se leva um pouco a sério demais quando não deveria e que acaba sendo negligente quando deveria ser mais auto-consciente. Embora tenha o potencial para uma trama inovadora, Vida acaba caindo nos clichês e estereótipos do horror, apelando excessivamente para jump scares e reviravoltas que nem sempre atingem o público como esperado.

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Por fim, vale mencionar um aspecto muito bem trabalhado do filme: a produção sonora. Há pouca trilha sonora aqui, o que reforça um sentimento de isolamento no espaço. Ao mesmo tempo, as sequências onde a tensão e o horror prevalecem são bem construídas pelo design sonoro, ainda que haja um uso exagerado de ruídos altos para construir sustos.

A edição sonora é precisa, reforçando a busca do diretor por obter uma narrativa mais realista. A mixagem, por sua vez, não peca em criar um ambiente de caos controlado. Tudo é feito de forma a conceber um espetáculo moderado, que casa bem o design visual do filme com a atmosfera sonora na qual ele se concentra.

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Em suma, Vida é um filme bom. Como horror de criatura espacial, ele consegue apelar bem para o grande público sem se tornar cansativo ou entediante. O problema reside na expectativa levantada pela história, já que o filme não consegue se manter à altura da sua proposta.

Porém, há um grande cuidado em criar a trama mais realista possível e isso é recompensado pelo visual e narrativa de fundo do longa. Apesar de todos os problemas de roteiro e direção, Vida consegue provar a David Bowie: sim, há vida em Marte.

Nota: 3/5