Do fracasso à decência – A história da Marvel no cinema! (Pt. 1)

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Do fracasso à decência – A história da Marvel no cinema! (Pt. 1)

Por Felipe de Lima

Uma grande oportunidade: Capitão América (1944)

Os esforços da Marvel em transformar seus filmes em grandes sucessos não é algo recente, na verdade, eles são quase tão antigos quanto a própria editora. ‘Captain America’ foi uma série de filmes em 15 partes que detém a honra de ser o último seriado de super-herói feito pela Republic Pictures. A empreitada também foi a primeira adaptação live-action da Marvel, e é responsável pela editora ter se afastado desse tipo de produção por mais de 40 anos.

Para ser mais preciso, eu deveria estar dizendo Timely Comics – que só viria a mudar de nome para Marvel em 1961 - mas de qualquer forma, a editora ficou furiosa com as grandes liberdades que a Republic tomou com o personagem. A Timely havia enviado apenas algumas páginas de quadrinhos como referência para o estúdio basear o filme, mas o Capitão América visto na série é muito diferente do que qualquer fã esperaria: Ele não era Steve Rogers do exército dos EUA, mas sim o promotor de justiça Grant Gardner; o soro super-soldado não existia, e ao invés de ter o icônico escudo como sua principal arma, Gardner simplesmente usava um revólver.

Entendendo a referência

Mas mesmo com todas as liberdades, a série foi bem recebida pelo público e críticos da época, e a própria história do Steve Rogers da Marvel faz referência ao Capitão América do seriado - mais precisamente na sequência ao lado, que faz parte do filme Capitão América: O Primeiro Vingador.

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Marvel vai para a TV

Demoraria muito tempo até a Marvel voltar a investir em adaptações live-action de seus personagens, mas antes de se aventurar novamente no cinema, ela levou vários de seus personagens para a televisão em uma série de filmes feitos para o formato, que na verdade se tratavam de pilotos para séries de TV, como visava um acordo feito entre a empresa e CBS.

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Spider-Man (1977)

A longa história de adaptações do Homem-Aranha começou no final dos anos 70 com ‘Spider-Man’, estrelado Nicholas Hammond como Peter Parker – que reprisaria o papel para a série de TV do ano seguinte.

Embora a CBS não tenha tido tantas liberdades com o Homem-Aranha quanto a Republic teve com o Capitão América, a Marvel e, particularmente, Stan Lee não ficaram satisfeitos com o tom infantil do piloto, mas CBS estava confiante no sucesso e encomendou uma série para o ano seguinte. A Marvel, descontente com o projeto, decidiu levar o Homem-Aranha para outros lugares, licenciando-o para Toei como parte de um acordo que deu origem ao Supaidaman, e contribuiu de forma indireta para o nascimento do gênero Super Sentai!

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Doctor Strange (1978)

Em 1978, houve uma tentativa semelhante de popularizar o Doutor Estranho com um filme piloto para uma série de TV que acabaria nunca acontecendo, mesmo contando com uma recepção calorosa por parte do público e da própria Marvel.

Doutor Estranho, na verdade, marcou algo inédito na história cinematográfica da empresa: a primeira representação live-action de uma vilã dos quadrinhos. Enquanto Capitão América lutou contra o Escaravelho e o Homem-Aranha combateu um hipnotizador sinistro chamado Guru, o Mago Supremo de Peter Hooten duelou com Morgan Le Fay, uma feiticeira malvada baseada na lenda do Rei Arthur, que foi interpretada por Jessica Walter.

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Captain América (1979)

O acordo da Marvel com a CBS acabaria por chegar ao fim em 1979 com dois filmes do Capitão América - Captain America e Captain America II: Death Too Soon. Parece que a Marvel novamente não se deu conta dos perigos de deixar o controle criativo nas mãos dos estúdios e - embora o personagem fosse mais fiel aos quadrinhos do que o da série da Republic - desta vez Steve Rogers foi transformado em um artista que após um acidente é injetado com um esteroide chamado BANDEIRA, assim tornou-se o Capitão América.

A versão do personagem interpretada por Reb Brown carregava um escudo - com partes transparentes -, e dirigia uma motocicleta personalizada na qual ele poderia usar seu brasão de defesa como para-brisas. Esse Capitão América com o capacete e motocicleta se tornou um meme que você já deve ter visto na internet algumas vezes.

Brown reprisou o papel no final de 1979 contra um vilão terrorista interpretado por Christopher Lee, no entanto, nem Saruman pode salvar o longa, e as críticas foram extremamente negativas, levando a Marvel e a CBS a finalizarem sua parceria.

O vídeo não está mais disponível.

O retorno da Marvel à telona: Howard: o Super-herói (1986)

Depois de ter fracassado na TV, a Marvel resolveu investir no cinema pela primeira vez em 42 anos... Mas nada saiu como o planejado.

George Lucas havia tentado adaptar a história em quadrinhos logo após Loucuras de verão, mas na época passou a se concentrar em um projeto pequeno e obscuro chamado Star Wars.

Entretanto, depois de suas aventuras em uma galáxia muito, muito distante, Lucas deixou o cargo de presidente da Lucasfilm, e se voltou novamente para Howard com o objetivo de adaptar a série cômica de Steve Gerber.

A decisão bizarra de fazer um live-action ao invés de uma animação, como era o planejado, foi apenas um dos problemas com o filme absurdo de Willard Hyuck. Os elementos satíricos que definiram a versão de Steve Gerber do personagem foram deturpados, e as cenas com efeitos especiais foram desnecessariamente utilizadas. Os críticos detestaram o filme e o mesmo foi uma bomba nas bilheterias.

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A Volta do Incrível Hulk (1988) e O Julgamento do Incrível Hulk (1989)

Devastada pelo fracasso de Howard: o Super-herói, a Marvel tentou retornar à televisão ao trazer uma série de filmes que continuavam as aventuras de Lou Ferrigno e Bill Bixby em ‘O Incrível Hulk’, numa tentativa de ressuscitar o programa que havia sido cancelado seis anos antes.

O primeiro filme foi considerado um enorme sucesso, e logo garantiu sua continuação. Na verdade, os dois primeiros filmes Hulk são lembrados por ter feito algo que viria a definir os filmes atuais da Marvel: Crossovers.

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Os crossovers

A Volta e O Julgamento do Incrível Hulk não traziam apenas o herói titular, mas também apresentaram outros dois heróis da Marvel: Thor no primeiro filme, e o Demolidor no segundo - que se tratava de um piloto para uma série do personagem, mas a decepção geral fez com que a ideia fosse arquivada - que marcou as primeiras vezes em que dois personagens da Marvel apareceram no mesmo live-action.

No entanto, existe outro detalhe introduzido pelo segundo filme que é muito importante para os fãs: O Julgamento do Incrível Hulk foi o primeiro filme a contar com um cameo de Stan Lee, popularizando a pratica que acontece em adaptações da Marvel até hoje.

O filme que todo mundo esqueceu: O Justiceiro (1989)

A década de 1980 terminou com um infortúnio para os empreendimentos live-action da Marvel, culminando na adaptação do anti-herói Frank Castle.

A Marvel só concedeu à Artisan e Lionsgate partes limitadas do personagem para o filme, o que levou a grandes alterações no background de Frank Castle. No filme, ele era um ex-policial em busca de vingança pela morte de sua família pela máfia.

Apesar da Marvel permitir o uso dos nomes, a editora não deixou que a clássica camiseta com o crânio estampado aparecesse no filme, fazendo com que o Justiceiro fosse apenas um cara aleatório vestido de preto.

Independentemente da hesitação da Casa das Ideias, o filme foi em frente estrelando Dolph Lundgren. No entanto, devido a problemas com a distribuição, o filme nunca chegou aos cinemas norte-americanos, sendo lançado direto para home-video em 1990.

A Artisan e Lionsgate, mais tarde tentaram rebotar o Justiceiro duas vezes, a primeira em 2004 com O Justiceiro; e a segunda em 2008 com Justiceiro: Em Zona de Guerra. Ambos os filmes foram mal recebidos, e a partir de 2011 os direitos do personagem voltaram à Marvel.

Confira a Parte 2, onde abordo a evolução da Casa da Ideias partindo de 1990 até o início do UCM. http://legiaodosherois.uol.com.br/lista/da-falencia-ao-triunfo-historia-da-marvel-no-cinema-pt-2.html