X-Men: Apocalipse – Grandiosidade e Breguice!

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X-Men: Apocalipse – Grandiosidade e Breguice!

Por Gus Fiaux

Atenção: A crítica a seguir foi realizada por um autor específico e não reflete a opinião total do site. Em todo caso, se você concorda ou discorda com a visão do autor ou dos comentaristas, lembre de ser respeitoso, sem ofender ou atacar ninguém gratuitamente. 

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Ficha Técnica

Título original: X-Men: Apocalypse Duração: 144 minutos Data de estreia: 19 de maio de 2016 (Brasil) Direção: Bryan Singer Produção: Lauren Shuller Donner, Bryan Singer, Simon Kinberg Roteiro: Simon Kinberg Elenco: Jennifer Lawrence, James McAvoy, Michael Fassbender, Oscar Isaac, Nick Hoult, Sophie Turner, Tye Sheridan, Alexandra Shipp, Rose Byrne, Olivia Munn, Lucas Till, Evan Peters, Ben Hardy, Kodi-Smit McPhee e Hugh Jackman

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X-Men: Apocalipse – Gênese, talvez?

Lançada em 2000, pelas mãos de Bryan Singer, e relançada em 2011, ainda com Singer atuando como produtor, a franquia dos X-Men chega ao seu sexto filme nos cinemas (nono, se contar com os spin-offs do Wolverine e do Deadpool), e aqui somos deixados em um ponto onde um ciclo se fecha – não de modo perfeito –, deixando várias pontas soltas para que a franquia se reestabeleça numa nova era “dominada” no mercado cinematográfico pela rival Marvel Studios.

Para isso, o diretor abre mão de criar uma adaptação sisuda, e sem interferência dos quadrinhos, e acaba trazendo o filme com o espírito mais cartunesco de toda a série.

Fãs mais hardcore dos personagens devem ficar maravilhados, enquanto aqueles que esperam algo que siga a linha estabelecida por Primeira Classe e Dias de um Futuro Esquecido devem acabar desapontados.

Embora o filme se proponha a encerrar o arco dos X-Men originais – Mística, Magneto e Xavier –, ele acaba fazendo um trabalho melhor ao apresentar a nova geração de mutantes que assumirá o legado dos X-Men – ajudando, assim, a fechar o ciclo.

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O Legado X

A trama começa exatos dez anos após os eventos do filme anterior da franquia, isto é, Dias de um Futuro Esquecido.

Os mutantes tornaram-se famosos desde que a humanidade os descobriu. Dessa forma, para alguns mutantes, especialmente aqueles que vivem na Escola Xavier para Jovens Dotados, tudo se tornou um paraíso de aceitação. O Professor X (James McAvoy) se tornou um rosto reconhecido e seu Instituto é uma porta de entrada para todos aqueles que precisam aprender a controlar seus dons.

Mas, ao redor do mundo, mutantes ainda são caçados, seja por militares para experimentos secretos, ou por donos de bares que organizam clubes de luta ilegais.

Outros mutantes passaram a viver escondidos.

É o caso de Mística (Jennifer Lawrence) e Magneto (Michael Fassbender), que passaram a adotar novas identidades, por motivos diferentes, depois dos acontecimentos de Washington DC. Depois que a descoberta de Magneto causa problemas em pequenas cidades, Raven vai atrás de Charles para que ele possa ajudá-la na busca ao velho amigo. Contudo, uma ameaça milenar ressurge e tem planos de conquista maiores...

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En Sabah Nur

Já nos primeiros minutos, somos apresentados a En Sabah Nur (Oscar Isaac), um mutante ancestral, que acredita-se ser o primeiro da história, que, de alguma forma, consegue viver várias gerações, incorporando os poderes de outros mutantes.

Em um momento, no Egito Antigo, ele é traído e acaba sendo enterrado até 1983, quando é despertado por um grupo de seguidores e passa a caminhar na Terra novamente. Enojado com o que o planeta se tornou, ele parte atrás de seus Quatro Cavaleiros para poder extinguir a Terra dos impuros e trazer os mais fortes para perto de si.

Primeiro, ele descobre uma batedora de carteiras no próprio Egito – Tempestade (Alexandra Shipp). Em suas viagens, ele encontra a guarda-costas de um reconhecido catalogador de mutantes do submundo – Psylocke (Olivia Munn) -, e um ex-lutador cujos poderes foram danificados – Anjo (Ben Hardy). Por fim, ele busca um dos mutantes mais poderosos do mundo, capaz de manipular metal.

Incumbindo todos com poderes maximizados, Apocalipse e seus seguidores partem rumo à destruição mundial e a aniquilação de líderes cegos e fracos.

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Segunda Gênese

O maior mérito de X-Men: Apocalipse encontra-se justamente na forma como novos mutantes são apresentados e passam a figurar como a nova geração de X-Men.

Somos apresentados a um novo Ciclope (Tye Sheridan), que se junta à equipe de forma tímida e, aos poucos, vai dando as pistas de sua liderança. Conhecemos a nova Jean Grey (Sophie Turner), insegura de seus poderes e com medo de ultrapassar certos limites. E, finalmente, Noturno (Kodi-Smit McPhee), um jovem mutante maravilhado com o que os Estados Unidos podem lhe oferecer.

Além disso, reencontramos Mercúrio (Evan Peters), que se une ao grupo de mutantes na esperança de resolver pendências a respeito de seu passado.

Juntos, esses personagens caem na trama arquitetada por Apocalipse e logo percebem que não podem mais viver na segurança de uma escola. Eles precisam lutar para salvar seus colegas e professores.

Apesar de serem desenvolvidos de forma turbulenta, os quatro representam a mudança de geração e a apresentação dos novos X-Men, que acabam, de certa forma, se ligando à formação do grupo apresentado no primeiro filme, de 2000, principalmente pela presença de Scott e Jean.

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Reestabelecendo heróis e vilões

O filme se calca na ideia de restabelecer esse universo e dar um verdadeiro início aos X-Men – algo que era prometido desde Primeira Classe, mas que com o advento de Dias de um Futuro Esquecido, foi esquecido.

Dessa forma, a principal preocupação por trás de Apocalipse é chegar a uma espécie de encerramento, ao mesmo tempo que planta todas as sementes da franquia para o futuro. E, isso tudo, enquanto insere um poderoso vilão com ajudantes que podem trazer o literal fim do mundo. Isso acaba sendo um primeiro ponto negativo.

A trama lida com núcleos demais e nem todos são bem trabalhados.

O desvio de foco para todos os heróis e vilões acaba fazendo a história demorar a começar, de fato, já que a todo momento são apresentados novos heróis.

Nessas múltiplas aberturas e introduções, perdem-se ao menos vinte minutos do filme. Porém, uma vez que a trama consegue engatar e os personagens chegam a locais similares, há uma crescente que vai melhorando até o fluir dos créditos.

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No olho da tempestade

Apocalipse se apresenta com uma grandiloquência costumeira nos filmes de heróis. Como prometido por Bryan Singer, é, de fato, o maior filme da franquia já feito.

Nesse ponto, a ação é espetacular, apesar do uso muito forte de computação gráfica, que acaba tirando o realismo e tornando o plano de fundo da história apenas uma massa de ruínas aleatórias. Isso, contudo, não quebra o que há de mais divertido a respeito das cenas de ação: testemunhar os X-Men, Apocalipse e seus quatro Cavaleiros usando seus poderes em diversas situações.

Todavia, a destruição provocada pelo conflito acaba se tornando apenas um deslumbre visual sem profundidade. Assim como é criticado em outros filmes do gênero – como, por exemplo, Homem de Aço e Thor: O Mundo Sombrio. Há uma quantidade absurda de mortes e catástrofes que simplesmente é ignorada ao final do filme... algo que provavelmente deve ser “corrigido” pelo próximo filme da franquia – ou seja, deve movimentar alguma das subtramas no futuro.

É curioso observar, também, que o filme possui um uso brutal de violência. Há uma quantidade impactante de pessoas sendo assassinadas no foco das cenas, sem poupar sangue e “criatividade” para as causas de morte.

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Agradando os fãs?

Não é preciso ser nenhum gênio para perceber o quanto a Fox é criticada por suas adaptações de quadrinhos.

Curiosamente, desde Deadpool, o estúdio parece estar dando mais liberdade aos seus projetos que derivam da nona arte. X-Men: Apocalipse não foge à regra, e acaba criando uma atmosfera onde podemos sentir claras referências aos quadrinhos, seja por famosas sagas da mitologia mutante ou por referências visuais e menções a personagens e momentos que determinaram a história dos X-Men ao longo dos anos.

Entretanto, o filme acaba ficando preso demais a essa atmosfera.

Na ânsia por agradar aos fãs, a construção dos filmes anteriores é deixada de lado. A Mística, por exemplo, que poderia ser uma personagem coerente devido à sua transformação nos filmes anteriores, acaba se tornando um mero objeto para uso de outros personagens e não possui sequer um arco dramático bem desenvolvido. Ela é apenas a mutante a ser idolatrada por ter feito algo importante pela causa. Toda a sua trama ao lado de Xavier e Magneto é reciclada dos dois filmes anteriores, o que causa uma estranha sensação de repetição e falta de conteúdo.

Há a inclusão de uma cena que, embora seja interessante por remeter diretamente aos quadrinhos de um popular herói da franquia, se torna um gigante fan service desnecessário para a trama.

Como se não bastasse, o filme possui um clima brega.

As atuações, embora muito boas por parte da grande maioria do elenco, são manchadas com diálogos horrendos que só poderiam soar naturais se lidos em um quadrinho dos anos 80.

O humor também é um ponto negativo, não por quebrar momentos de tensão, mas sim por ser forçado ao ponto que não desperta sequer risos amarelos. Além disso, a inserção de personagens secundários – como três dos quatro Cavaleiros do Apocalipse – é inútil. Eles, ao contrário de seu mestre, não despertam ameaça alguma e são derrotados com soluções fáceis demais.

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Explorando a epopeia

Ainda que recheado de defeitos, o filme está longe de ser ruim.

Bryan Singer faz o que fez de melhor em sua carreira: dirige cenas memoráveis, que tem um impacto na história e conseguem ser relembradas mesmo após o término da exibição.

O Mercúrio, novamente, é um dos pontos altos do filme, com duas cenas memoráveis, que até mesmo superam a famosa sequência na cozinha de Dias de um Futuro Esquecido.

Além disso, alguns personagens ganham uma verdadeira profundidade dramática, como é o caso de Magneto, que possui, de longe, o melhor arco do filme.

Apocalipse consegue ter o mérito de ser um vilão realmente devastador e ameaçador. As soluções para derrotá-lo não são fáceis e preguiçosas, ainda que, em seu conflito final, ele poderia mostrar mais de seus poderes.

O visual, tão criticado pelos fãs, funciona na lógica do filme e em vez de trazer um brutamontes digital, traz um mutante que pode fazer outros caírem sob sua persuasão.

Apesar da pesada maquiagem e figurino, Oscar Isaac faz seu melhor para fornecer vida ao vilão, que acaba não sendo apenas a figura maléfica do filme, ainda que, como mencionado, a maior parte de seus Cavaleiros não interfira de modo positivo na história.

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A era dos mutantes

Com críticas controversas, X-Men: Apocalipse acaba se tornando um filme decepcionante. Mas não por ser ruim, e sim por estar aquém das expectativas criadas pelos dois filmes anteriores da franquia.

Vivemos em uma era em que tudo precisa ser rotulado como “melhor” ou “pior” e isso se repete na visão geral da imprensa sobre o filme.

Enquanto alguns dizem que ele é o “melhor filme dos X-Men de todos os tempos”, outros o pintam como “a pior catástrofe do cinema de super-heróis”. E, no fim, ele é algo no meio. Não chega a ser ruim, pois o divertimento proporcionado é maior que o desapontamento, mas também jamais beira o ótimo por se sentir preso demais, seja à necessidade de agradar aos fãs ou ao fato de ter que cumprir um papel nesse Universo Cinematográfico, com personagens demais e ação inflada.

No frigir dos ovos, é um bom filme, que merece destaque na franquia – principalmente por corrigir erros executados em X-Men: O Confronto Final e X-Men Origens: Wolverine.

Mas, ainda assim, é um filme que demonstra o cansaço de Bryan Singer nesse universo e embora ele sirva para re-apresentar mutantes que já conhecíamos, acaba se mostrando um prenúncio agourento de que a franquia está destinada a existir em um eterno looping, encerrando seu ciclo e retornando a ele novamente.

Ao final dos créditos, vemos que o filme, apesar de encerrar essa nova trilogia, está preocupado com o legado que deixará para o futuro e, como em toda a história que se preze, o Apocalipse dá lugar ao Gênese.

Nota: 3/5